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Eu, que sou a interessada,
raramente abro a boca. Porque a verdade é que não sei muito bem o que
responder. Não se pode dizer que tenha grande vocação para o trabalho, essa é
que é essa. Quando eu era pequena, nunca tive aqueles sonhos que todos os miúdos
têm de quererem ser bombeiros, astronautas, sei lá que mais.
O meu único sonho, nestes anos
todos, foi sempre acabar a escola o mais rapidamente possível (…).
As minhas colegas querem ser
modelos, jornalistas de televisão, bailarinas do Big Show Sic, nadadoras salvadoras como nas Marés Vivas, actrizes de telenovela (…).
Quando eu era mais miúda, sonhava
com um navio branco a deitar nuvens de fumo lá nos confins do mar, e embarcar
nele para destinos de estranhos nomes, a Sildávia, por exemplo, que eu conhecia
dos livros do Tintim, ou o Egipto, onde haveria de encontrar Radamés e
apaixonar-me por ele até à morte como a escrava Aída.
Depois cresci e comecei a pensar…
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…
Porque não ser cabeleireira ou motorista de camião?!
Se
crescesse muito e me tornasse bela e deslumbrante talvez optasse por ser motorista
de camião, para poder ser eu a meter-me com outros condutores.
Se
a minha beleza estivesse guardada para os meus filhos, então tentaria ser uma
humilde cabeleireira, com estabelecimento lá no bairro.
Começaria
por frequentar um curso profissional, já que ando há quatro anos para concluir
o nono, mas a Matemática, a Física e as Ciências proíbem-me outros voos.
Se
tiver sorte, pode ser que o talhante da minha rua me peça namoro. E se
casarmos, teremos sempre a possibilidade de termos carninha fresca à nossa
mesa.
No
fundo, só espero ser feliz com os cabelos dos outros nas mãos, ou com elas a
segurar um volante.
Viajar
sempre foi o sonho da minha vida!
…
Mas
nunca viajaria por auto-estradas. As estradas secundárias, municipais têm muito
mais encanto, mais segredos a desvendar. Caminhos por descobrir. Paisagens a
admirar.
E
haveria as tascas da beira da estrada. Onde os sabores são mais legítimos, originais
e verdadeiros. Muito diferentes, os sabores, das comidas assépticas das áreas
de serviço das vias rápidas.
A
música acompanhar-me-ia para todo o lado, tornando o trabalho mais leve e as viagens
mais curtas.
Num
momento atravessaria a Europa e conheceria outros países, outras realidades,
outras culturas. As pessoas seriam diversas, mas o desejo de as contactar faria
ultrapassar alguns obstáculos, nomeadamente, a língua.
Milhares
de quilómetros que espero vir a percorrer se…
conseguir
cumprir os meus desejos e conquistar o meu destino!
Severiano Pinhão (Professor de
Português do 9º 3)
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