"É triste dizê-lo, mas não sei sequer que nem de mim sei. (...)
Sou um simples..."
Dia 10 de Outubro de 2012 foi uma data histórica para a nossa Escola. É que teve lugar, a primeira Conversa à Quarta-feira, projeto pensado para promover a discussão, aberta a toda a escola, de assuntos de interesse geral.
Foi neste âmbito que o professor José Carlos Maurício dinamizou uma sessão, na qual nos brindou com a sua criatividade e boa disposição.
A sessão teve início com a leitura de um texto que, a todos, à primeira vista, pareceu hermético, já que ninguém conseguia identificar quem era o sujeito da enunciação (e parecia ser suposto que conseguisse). No entanto, a discussão que o dinamizador promoveu, partindo de um diálogo com um objeto (um caixote do lixo), levou à constatação de que, afinal, o público presente sabia identificar as relações que o dito objeto podia estabelecer com diferentes áreas do conhecimento. Assim, o caixote do lixo foi apreciado enquanto paralelepípedo, enquanto símbolo da proteção do ambiente, enquanto proteção da saúde e da vida (através do saco que protegia o seu interior), enquanto elemento passível de observação cromática, enquanto objeto proveniente de uma construção metalúrgica, entre outros.
Dada por concluída esta discussão, o professor dinamizador sugeriu que o texto voltasse a ser lido. Foi então que, ao chegar ao final, todos em coro, surpreendentemente, identificaram que o sujeito da enunciação era… o caixote do lixo. O que deixou como ensinamento, entre outros, de que o diálogo e a questionação são um ponto de partida essencial, não só para o conhecimento, como também para a exposição.
Numa segunda parte da ação, o professor Carlos Maurício conduziu o auditório para a entrada da Biblioteca. Estando o caixote do lixo colocado sobre uma mesa, os intervenientes dispuseram-se em semicírculo, segurando a folha do texto. Depois de a amarfanharem, tentaram projetá-la para o interior do caixote. Obviamente que ninguém acertou, tendo as bolas de papel permanecido no chão. Foi então que o professor Maurício colocou, frente ao caixote, uma placa com a inscrição “ÉS O MAIOR”, declarando o resultado desta ação como sendo uma obra de arte.
O que todos aplaudiram.
Fernanda D. e Manuela S.- autoras do Projeto "Conversas à 4ª feira"
4 comentários:
A dita 2ª parte constituiu a materialização do sonho do caixote, tranformado em objeto de museu ("became"), admirado e endeusado pelo lixo circundante e submisso ("És o maior!"), numa inversão de papéis. Tais folhas continham as palavras escritas que lhe são devolvidas pelos presentes, num gesto coletivo imediato, instantâneo e único (momento de arte efémera conhecido por "happening"), de que resultou uma "instalação" (outra forma de arte efémera) que permanecerá na BECRE durante uma semana, até o caixote de lixo regressar à sua condição primeira e à sua sala de aula.
O título ("Sente-me, ouve-me, vê-me" foi roubado a um conjunto de arte documental da conceituada artista portuguesa Helena Almeida.
Carlos Maurício
Correção: no meu comentário queria dizer "arte concetual" e não "documental".
Carlos Maurício
Uma experiência muito boa e produtiva.
Ajuda-nos a perceber melhor certas coisas com que lidamos no nosso dia-a-dia e não nos damos ao trabalho de interpretar.
Muitas vezes esquecemos-nos que existe uma mensagem por detrás de tudo
até o mais simples dos objectos como o caixote do lixo. . .
Embora já nos tivesse sido dado um cheirinho acerca desse "diálogo" com o caixote do lixo, a verdade é que a última 4ª-feira foi, no mínimo, inspiradora!!
Fez-me perceber que existe um sentimento e até, quem sabe, uma personalidade em cada um dos objectos que nos rodeiam, e que, por isso, estamos mais acompanhados do que julgamos estar. Foi também bastante eficaz ao nos fazer ver que os nossos actos têm consequências, seja em caixotes do lixo, mesas, paredes (como vemos por toda a escola), ou até mesmo em pessoas.
A próxima conversa será já amanhã com o Prof. Luís Ladeira.
Participem, vale a pena!
Diana Pereira, 11º 6
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