quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Os Mal-Amados: um retrato do Portugal do séc. XX

 

Leitura adiada há já algum tempo, entranhou-se-me sem dificuldade, com muita curiosidade pelos detalhes das narrativas e um especial prazer suscitado pela escrita muito rica, intensa, envolvente de Fernando Dacosta.

O autor explicita bem o seu propósito no repto que lança na abertura: “Não apaguem a memória”, sublinhado no encerramento: “ Retardar o esquecimento…” e, implicitamente, o próprio título do livro, Os Mal-Amados, remete para esse desiderato, dar voz a um conjunto de figuras, cuja ação e/ou pensamento merecem um lugar ao sol no acantonamento da historiografia portuguesa. Neste livro o autor revela e revela-se, através dos retratos que nos apresenta, figuras centrais de um conjunto de fragmentos organizados em 5 estações, os ciclos de vida de Portugal: Primavera, Verão, Estio, Inverno e Outono.

Desde Salazar e Caetano, passando por Cunhal, Soares, Amália, Natália Correia, Vergílio Ferreira, entre muitos outros, terminando com o singular pensador Agostinho da Silva, Fernando Dacosta percorre o séc. XX português, a partir do Estado Novo e até ao final do 1º milénio, se atentarmos na data da 1ª edição da obra. Fá-lo com a segurança e a sabedoria de quem viveu em diferentes regimes, conheceu e conviveu com pessoas influentes, de diferentes quadrantes, desenvolvendo um sentimento de pertença, melancolicamente crítica, que o identifica com esse grupo tão heterogéneo e ao mesmo tempo tão unívoco, onde predominam, naturalmente, os escritores:

 “Livro da minha disponibilidade interior (erigida com persistência e desvelo), assenta num cordão de prata que, inquebrável e quente, me liga aos idos para sempre.”


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