Foi uma sessão de grande intensidade poética que envolveu a generalidade dos alunos, captando a sua atenção e suscitando uma genuína admiração pelo actor que, paulatinamente, imergiu no universo da poesia de Cesário Verde, atingindo o clímax na identificação com a dor do poeta em “O sentimento dum ocidental”.
I - AVE-MARIAS
I - AVE-MARIAS
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
(…) (…) (…)
IV - HORAS MORTAS
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
(…) (…) (…)
IV - HORAS MORTAS
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
(…) (…) (…)
Se eu não morresse, nunca!
E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
(…) (…) (…)
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
(…) (…) (…)
E os guardas que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
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