
Actividades deste tipo têm sido propostas por outros professores de diferentes escolas, dando resultados sempre distintos e criativos e, sobretudo, levando os alunos a conhecer melhor o universo literário deste e de outros autores da Literatura Portuguesa.
Na pesquisa que fizemos para enquadrar a iniciativa acolhida pela BE/CRE, encontrámos algumas leituras que nos pareceram bastante interessantes, como a do autor de um blog, que estabelece uma leitura cruzada de Manuel da Fonseca e Miguel Torga, ambos escritores portugueses que cultivaram diferentes géneros literários mas que a Escola associa preferencialmente ao conto. As suas descrições recriam os ambientes e os condicionamentos de um país marcado pela censura, pela resistência a um certo progresso e pelo apego às raízes, fosse em solo transmontano ou alentejano. De certa forma, as pinceladas literárias destes dois autores compõem um quadro do Portugal salazarista.
- Diz a tua mãe que te vista o fato novo para ires tirar o retrato.Admirei-me:
- Mas hoje não é dia dos meus anos...
- Pois não. Mas lá em Beja precisam de dois retratos teus. É para te identificarem.
- Identificarem?- Sim. Para saberem que és tu e não outro.
- Não percebo - recomecei, desconfiado.
- Como podem eles supor que vai outro em meu lugar?
Daqui por diante, a conversa complicou-se de tal modo que meu pai perdeu a serenidade; gritou-me:
- Faz o que te digo, rapaz! (…)
Sou, pois, uma criança cheia de infinita amargura, especada e sem jeito, diante do olho redondo e sinistro que me vai matar.
Ferozmente, o Sr. Rodrigo analisa-me. Acima de tudo, ele é um artista que não consente que qualquer fedelho o deixe mal colocado.Quase nem respiro.
O Sr. Rodrigo avança, torce-me a cabeça com dureza, puxa-me o queixo, empurra-me a testa para trás. Recua e ordena-me brutalmente:
- Sorria com naturalidade!
Sucumbi num esgar contrafeito de choro. Mas o Sr. Rodrigo exclamou:
- Exactamente! Quieto! Olhe para aqui! Revirei os olhos, numa agonia.
-Um...! Dois...! Três! Nesse momento, tive a impressão que a casa desabava: o estuque caiu do tecto, numa chuva branca; um ruído enorme abanou as paredes - oscilei na cadeira, como se fosse cair para sempre. Ouvia-se uma correria desordenada, gritos, patadas contra o soalho, risos dementes.
-Já está! - berrou num nervosismo feroz o Sr. Rodrigo, avançando para mim. (…)
Depois, quando dei por mim, estava em Beja, sozinho, estranho no meio daquela gente, e os professores gabavam-me o juízo e a aplicação ao estudo. Foi uma alegria para meus pais. Dela não comparticipei, pois não podia esquecer os meus amigos de infância, livres e felizes, lá no largo!
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Depois, quando dei por mim, estava em Beja, sozinho, estranho no meio daquela gente, e os professores gabavam-me o juízo e a aplicação ao estudo. Foi uma alegria para meus pais. Dela não comparticipei, pois não podia esquecer os meus amigos de infância, livres e felizes, lá no largo!
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Antigamente, o Largo era o centro do mundo. Hoje é apenas um cruzamento de estradas, com casas em volta e uma rua que sobe para a Vila. O vento dá nas faias e a ramaria farfalha num suave gemido, o pó redemoinha e cai sobre o chão deserto. Ninguém. A vida mudou-se para o outro lado da Vila. In " O largo" (o 1º. conto desta colectânea)
Manuel da Fonseca, no prefácio à colectânea de contos em que se integra “O retrato” explica:
« As pessoas de quem escrevo são as que houve na minha vida. Gente de família ou conhecida. Nelas me fui descobrindo e sendo eu próprio as vidas que contei. É isso eu. (…)
Do mesmo modo a paisagem é um ser vivo – tem de se reinventar: só assim será real, como na vida. (…)»
« As pessoas de quem escrevo são as que houve na minha vida. Gente de família ou conhecida. Nelas me fui descobrindo e sendo eu próprio as vidas que contei. É isso eu. (…)
Do mesmo modo a paisagem é um ser vivo – tem de se reinventar: só assim será real, como na vida. (…)»
8 comentários:
A sessão de leitura foi interessante, partilha-se algumas memórias e serviu para nos conhecermos melhor uns aos outros... Aluno/a do 10º8
Achei super interessante, pois fiquei agradado com a criatividade dos textos e com as apresentações dos livros de dois colegas de outras turmas.
Aluno do 10º. 4
Gostei bastante da apresentação, foi muito interessante, mas pareceu-me que ainda há algo a melhorar não sei bem o quê, mas acima de tudo conseguiram cativar a atenção de todos. Actividades deste género são sempre bem vindas.
Aluna/o do 10º. 4
Acho que a actividade foi realizada com empenho e acho que deviam haver mais actividades como esta ao longo de todo o ano...
Aluna/o do 10º. 5
Este tipo de actividades fornece a possibilidade de intercâmbio de experiências entre turmas que no contexto escolar não têm qualquer tipo de cooperação ou que ... é reduzida ...
Aluno/a do 10º. 5
Houve uma boa exposição de trabalhos por parte dos alunos, embora não tenha participado gostei muito da participação dos meus colegas.
voçes sao todos gays de merda
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