segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Do exílio não se regressa...

Na linha de uma eclética e sempre oportuna abordagem dos vultos da cultura nacional e internacional que se destacam na actualidade, o programa Câmara Clara deu visibilidade a uma das vozes proeminentes da América Latina: Luís Sepúlveda. O autor chileno, profundamente marcado pelo exílio a que os rumos da política interna do seu país natal o conduziram, transpôs para a literatura as suas experiências e o olhar de um mundividente saudoso da pátria, que a sua memória guardou em melancólicas representações, constituídas "histórias para vencer o esquecimento", como a que se apresenta com o sugestivo título, "Jantar com poetas mortos", em que se pode ler, num registo autobiográfico, a propósito de um encontro de amigos:

A todos nos deu para olhar o fundo do copo, procurando aí as palavras para reconhecer uma das verdades mais tristes, essa que nos revela o pior de fazer cinquenta anos, porque nessa idade os amigos começam a morrer.

Os amigos não morrem simplesmente:morrem-nos, uma força atroz mutila-nos da sua companhia e continuamos a viver com esses vazios entre os ossos. ("A Lâmpada de Aladino", p.29)

O mais recente romance de Luís Sepúlveda, A Sombra do que Fomos, distinguido com o "Prémio Primavera de Romance 2009", é um virtuoso exercício literário posto ao serviço de uma história carregada de memórias do exílio, de sonhos desfeitos e de ideais destruídos. Um romance escrito com o coração e o estômago, que comove o leitor, lhe arranca sorrisos e até gargalhadas, levando-o no fim a uma reflexão profunda sobre a vida." (Porto Editora)

Para os mais novos (e para os que já o não são tanto), destaca-se esta fábula, onde a ternura, o humor e a ironia se apresentam como um tempero na medida exacta dos valores, universais e humanistas, exemplarmente protagonizados pelos personagens desta história que, por acaso, ou talvez não, são animais e não humanos.

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