Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.
Há um porto por achar no verbo amar
há um demandar um longe que é aqui.
E o meu gostar de ti é este mar.
Há um Duarte Pacheco em eu gostar
de ti. Há um saber pela experiência
o que em muitos é só um efabular.
Que de naugrágios é feita esta ciência
de ti. Há um saber pela experiência
o que em muitos é só um efabular.
Que de naugrágios é feita esta ciência
que é eu gostar de ti como um buscar
as índias que afinal eram aqui.
Ai terras de Aquém-Mar (a-quem-amar)
naus a voltar no meu gostar de ti:
levai-me ao velho pinho do meu lar
eu o vi longe e nele me perdi.
levai-me ao velho pinho do meu lar
eu o vi longe e nele me perdi.
Manuel Alegre
Nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil e apoiou a candidatura do general Humberto Delgado.
Mobilizado para Angola em 1962, organiza aí uma primeira tentativa de revolta militar contra o regime e a guerra colonial, que o conduz à prisão, pela PIDE, durante 6 meses, em Luanda.
Nos 10 anos que esteve exilado em Argel, trabalhou como locutor da emissora de resistência "A Voz da Liberdade", regressando a Portugal depois do 25 de Abril de 1974.
Desde então tem participado activamente na vida política, exercendo vários cargos e mantendo-se associado ao partido socialista.É considerado o poeta português mais musicado.
O autor fala de si:
(...) Acusam-me de altivez e narcisismo. É sobretudo reserva, timidez e uma incapacidade física de praticar uma certa forma portuguesa de hipocrisia e compadrio. Ou talvez um tique que herdei de família: levantar a cabeça, olhar a direito. Tenho desde pequeno a obsessão da morte. Não o medo, mas a consciência aguda e permanente, sentida e vivida com todo o meu ser, de que tudo é transitório e efémero e não há outra eternidade senão a do momento que passa. Talvez por isso seja um homem de paixões. (...)
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