Recomendamos vivamente a leituta deste livro de Annie Ernaux, Prémio Nobel da Literatura (2022), sobretudo para adultos, ou jovens com alguma maturidade sociológica.
“ Todas as imagens irão
desaparecer.” (p. 9)
Começa assim a narrativa pessoal,
autobiográfica, mas fortemente alicerçada num registo social, sociológico - sociocultural e sociopolítico -, que nos esclarece sobre a
autora e o seu tempo, que é, também, em grande parte, o “nosso” tempo.
A identificação vai muito além
das questões de género, das observações sobre uma profissão que é a mesma, e
suscita preocupações e reflexões semelhantes, prende-se com os efeitos da
passagem do tempo e o olhar que temos vindo a ensaiar sobre aquilo a que
chamamos, de forma muito prosaica, o filme da (minha/nossa) vida. Um olhar que
se torna cada vez mais uma prática corrente, uma inevitabilidade.
O livro de Annie Ernaux é de uma lucidez e de uma densidade tais, que
sentimos que nada ficou de fora nessa prosa clara e luminosa onde os factos do
quotidiano surgem como grandes telas plenas de vida, representações de uma
existência individual e plural, marcas de uma história essencialmente feminina
e ocidental, moldada pelo questionamento e pelo vivenciar de uma existência
feita de encontros e desencontros, como todas as vidas.
Referindo-se á escrita como um
projeto sucessivamente adiado pelos imperativos do quotidiano, a autora vai-se
revelando e desnudando a urgência da sua natureza, enquanto sublinha o caráter de
precaridade da existência, que tenta contrariar com palavras.
“É agora que deve dar forma, através da escrita, à sua
ausência futura (…)” (p. 192)
Perante a constatação que serve
de abertura ao livro, Annie Ernaux justifica o ato da escrita , afirmando, no fim
do texto, que o seu intento consiste apenas em…
“Salvar qualquer coisa do tempo onde não voltaremos a estar.” (p. 196)
Sem comentários:
Enviar um comentário