Agustina Bessa-Luís deixou-nos já com provecta idade, mas é no próximo dia 15 de outubro que se cumpre o centenário do seu nascimento.
É em 1954, com o
romance A Sibila, que Agustina
Bessa-Luís se impõe como uma das vozes mais importantes da ficção portuguesa
contemporânea. Conjugando influências pós-simbolistas de autores, como Raul
Brandão, na construção de uma linguagem narrativa onde o intuitivo, o simbólico
e uma certa sabedoria telúrica e ancestral, se conjugam com referências de
autores franceses como Proust e Bergson, nomeadamente no que diz respeito à
estruturação espácio-temporal da obra, Agustina possui a marca de um estilo
absolutamente único, paradoxal e enigmático. Os textos desta autora são
habitados por uma diferença antiga entre as figuras do feminino e as figuras do
masculino.
As mulheres movem-se a partir do instinto, da proximidade com
as coisas insignificantes num espaço-tempo que antecede o simbólico. São forças
ancestrais de permanência e conservação. Os homens são seres de projecto que
impulsionam as transformações do mundo e aceleram o tempo. A sua prosa
aproxima-se muitas vezes às características essenciais da poesia, pelo excesso,
pela fuga, pela ritualidade e harmonia terrível das palavras que se dizem e das
coisas que acontecem.
Além da escrita, ou no seu prolongamento, a autora tem
participado em múltiplas iniciativas, levando longe as Letras portuguesas.
Entre os cargos, destaca-se o facto de ter sido diretora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto) e, mais
tarde, entre 1990 e 1993, assumiu a direção do Teatro Nacional de D. Maria II
(Lisboa). Foi também membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social.
Vários dos seus romances foram já adaptados ao cinema pelo
realizador Manoel de Oliveira, com quem trabalhou e colaborou de
perto. Exemplos desta parceria são Fanny
Owen (Francisca), Vale Abraão, As
Terras do Risco (O Convento), A mãe
de um rio (Inquietude), para além de Party,
cujos diálogos foram igualmente escritos pela escritora e mais recentemente, o
primeiro volume da trilogia O Princípio
da Incerteza. É também autora de peças de teatro e guiões para televisão,
tendo o seu romance, As Fúrias, sido
adaptado para teatro e encenado por Filipe La Féria (Teatro Nacional D. Maria
II, em 1995). Em 2006, depois da publicação do seu último romance, A ronda da noite, afastou-se da
atividade literária, por motivos de saúde.
Fonte: Centro de Documentação de Autores Portugueses 05/2004 (acedido em
08/10/2022)
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