sábado, 8 de outubro de 2022

Autora do Mês de outubro

 

Agustina Bessa-Luís deixou-nos já com provecta idade, mas é no próximo dia 15 de outubro que se cumpre o centenário do seu nascimento.

Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante (região do Douro), em 1922, onde passou a sua infância e adolescência, cuja ambiência marcará fortemente a obra da escritora. Estreou-se como romancista em 1948 com a novela Mundo Fechado, cujo título de certa forma define o seu mundo e a sua produção literária – na verdade, a ambiência das suas obras vive de «mundos fechados», bem como a sua própria escrita se encontra «fechada» a qualquer tentativa de contextualização, em termos de correntes, na história da literatura portuguesa. Manteve, desde então, um bom ritmo de publicação (pouco usual nas letras portuguesas), contando com mais de meia centena de obras.

É em 1954, com o romance A Sibila, que Agustina Bessa-Luís se impõe como uma das vozes mais importantes da ficção portuguesa contemporânea. Conjugando influências pós-simbolistas de autores, como Raul Brandão, na construção de uma linguagem narrativa onde o intuitivo, o simbólico e uma certa sabedoria telúrica e ancestral, se conjugam com referências de autores franceses como Proust e Bergson, nomeadamente no que diz respeito à estruturação espácio-temporal da obra, Agustina possui a marca de um estilo absolutamente único, paradoxal e enigmático. Os textos desta autora são habitados por uma diferença antiga entre as figuras do feminino e as figuras do masculino.

As mulheres movem-se a partir do instinto, da proximidade com as coisas insignificantes num espaço-tempo que antecede o simbólico. São forças ancestrais de permanência e conservação. Os homens são seres de projecto que impulsionam as transformações do mundo e aceleram o tempo. A sua prosa aproxima-se muitas vezes às características essenciais da poesia, pelo excesso, pela fuga, pela ritualidade e harmonia terrível das palavras que se dizem e das coisas que acontecem.

Além da escrita, ou no seu prolongamento, a autora tem participado em múltiplas iniciativas, levando longe as Letras portuguesas. Entre os cargos, destaca-se o facto de ter sido diretora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto) e, mais tarde, entre 1990 e 1993, assumiu a direção do Teatro Nacional de D. Maria II (Lisboa). Foi também membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social.

Vários dos seus romances foram já adaptados ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, com quem trabalhou e colaborou de perto. Exemplos desta parceria são Fanny Owen (Francisca), Vale Abraão, As Terras do Risco (O Convento), A mãe de um rio (Inquietude), para além de Party, cujos diálogos foram igualmente escritos pela escritora e mais recentemente, o primeiro volume da trilogia O Princípio da Incerteza. É também autora de peças de teatro e guiões para televisão, tendo o seu romance, As Fúrias, sido adaptado para teatro e encenado por Filipe La Féria (Teatro Nacional D. Maria II, em 1995). Em 2006, depois da publicação do seu último romance, A ronda da noite, afastou-se da atividade literária, por motivos de saúde.

Fonte: Centro de Documentação de Autores Portugueses  05/2004 (acedido em 08/10/2022)

 



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