quarta-feira, 17 de junho de 2009

Autores de Junho


Perdido
No labirinto de mim mesmo, já
Não sei qual o caminho que me leva
Dele à realidade humana e clara
Cheia de luz, onde sentir-me irmãos.
Por isso não concebo alegremente,
Mas com profunda pesadez em mim,
Esta alegria, esta felicidade,
Que odeio e que me fere.
Ouvir um riso
Amarga-me a alma — mas por quê não sei.
Sinto como um insulto esta alegria...
Toda a alegria. Quase que sinto
Que rir é rir... não de mim mas, talvez
Do meu ser.
Um insulto ao mistério estar a rir
E tendo o horror, do poder durar eterno
Do incompreendido! Estranho!

Felicidade, (...) composto
De sensualidade e infantilismo...
Como te posso eu ter, felicidade?

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 – 30 de Novembro de 1935)
Filho de Maria Madalena Nogueira e de Joaquim Pessoa. Depois da morte do pai viaja para Durban, em 1896, onde fará a instrução primária e secundária. Matricula-se numa Escola Comercial, onde aprende a sua futura profissão. Em 1902, começa a escrever, em inglês e já sob o nome de outro – Alexander Search.
Em 1905 volta para Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras. Começa em 1907 a trabalhar como correspondente estrangeiro de casas comerciais.
Em 1908, começa a escrever poesia em português.
Publica em A Águia, durante o ano de 1912, três artigos sobre «A Nova Poesia Portuguesa». Nesse mesmo ano conhece Mário de Sá-Carneiro, que parte para Paris, iniciando com ele uma correspondência através da qual se trocam ideias literárias e artísticas que hão-de estar na base dos «ismos» de referência da geração de Orpheu – Paulismo, Interseccionismo, Sensacionismo – enqudrados nas tendências das Vanguardas europeias: Futurismo, Expressionismo e Cubismo.
No ano seguinte, saem os dois números da revista Orpheu, que na altura provocam escândalo e gargalhada mas hão-de transformar o século XX português.
Em 1917 colabora no Portugal Futurista. Em 1918 publica dois opúsculos de poemas em inglês, 35 Sonnets e Antinous.
No ano seguinte conhece Ofélia Queirós, e inicia em 1920 o primeiro período do seu namoro com ela. Em 1921 cria a editora Olisipo.
Dirige em 1924 Athena. Revista de Arte mensal.
Nesse mesmo ano reacende-se o amor e a correspondência com Ofélia Queirós.
O seu único livro de poemas em português, Mensagem, sai a 1 de Dezembro de 1934, e ganha um dos prémios nacionais instituídos por António Ferro.
Numa carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935 contará o nascimento e biografia dos heterónimos – Alberto Caeiro, o camponês sensacionista, Ricardo Reis, o médico neo-clássico, e Álvaro de Campos, o engenheiro. Outro membro do clã imaginário é Bernardo Soares, um semi-heterónimo por não ser inteiramente um outro como cada um dos outros é.
Morre no dia seguinte, a 30 de Novembro de 1935.
A sua obra começará a ser publicada sistematicamente, em livro, só a partir de 1942, e a primeira versão de O Livro do Desassossego apenas chegará a sair em 1982.
Trata-se de um dos maiores nomes da literatura universal.

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