sábado, 19 de março de 2016

Dia Mundial da Poesia (antecipação em retrospetiva)

Depois de Auschwitz, outras fracturas exigiram a intervenção da palavra poética: do Vietname ao Iraque, da Jugoslávia à Síria... Escrever poesia, sim, mas com imensas dúvidas: que pode um poema contra as atrocidades perpetradas por tiranos? Quando o fosso entre ricos e pobres nos faz ver que 1% de seres humanos detém 99% das riquezas mundiais, que pode a poesia? Portugal tem dois milhões de pobres... o fascismo continua de outra maneira: a inveja, a diluição cultural, a alienação, a boçalidade... 
              MORTOS-VIVOS
E não temos palavras para ser
Regressamos em silêncio aos dormitórios
No olhar trazemos o vazio
e dentro do vazio somos carnívoros
Saímos para a noite embriagados
O rosto que temos não nos chega
Os olhares vítreos são mesmo de vidro
com suas lâminas compramos o prazer
Não temos palavras para ver
somos corvos e chacais e somos cobras
E um rio tumular percorre os corpos:
o grito de Munch o rio de lama
em peitos tatuados    em sexos
esculpidos    De piercings na língua
os olhos injectados  nós somos
tubarões   nós somos mortos-vivos


Damos conta do lançamento de um livro de poesia da autoria de António Carlos Cortez, que nos toca pela força das palavras e da mensagem, tal como o quadro do pintor que ele evoca: E. Munch.


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