terça-feira, 28 de maio de 2013

Coser


A proposta de exercício de escrita criativa que foi apresentada aos alunos do 9º. 5 consistia em ligar duas partes de um dado texto. Apresentamos o melhor trabalho:


Entrei pela porta de um livro e fechei-me lá dentro com as palavras acesas e as luzes apagadas. A minha mãe deu voltas à casa à minha procura. “Onde é que o miúdo se terá metido?” Com medo de ser encontrado, eu saltava das páginas pares para as ímpares e enrodilhava-me, feito bicho-de-conta, entre dois parêntesis ou, por ser muito magro, atrás de um ponto de exclamação. Era a primeira vez na minha vida que eu me fechava dentro de um livro. (…)
            O livro era agora o meu refúgio e a minha casa, uma casa onde tudo era imprevisível e estranho e onde as letras tinham espessura e cheiro como se fossem humanas. Confesso que me perdi lá dentro …
                    Por um lado, estava contente pois conseguira esconder-me da minha família, mas por outro lado, estava com medo e precisava de um abraço da minha mãe, ou então não, acho que o brilho daquelas palavras me confortava e me dizia: “não tenhas medo, connosco estás seguro”.
Depois as letras e as páginas começaram a fazer-me rir: sentava-me no traço horizontal do A, fazia o (O) de baloiço, o E virava-se ao contrário e servia de banco e as páginas serviam de escorrega, mas … 
Joana, Sara, Fábio, Tiago

           Eu entrara inadvertidamente naquele livro, mais pelo prazer da aventura do que pelo da leitura. Queria fazer uma partida à família e aquela pareceu-me ser a forma mais engenhosa e eficaz. Agora estava perdido dentro de um livro e não conseguia encontrar a porta que me devolvesse ao pequeno mundo do exterior onde estavam os brinquedos, os trabalhos de casa, os bichos-da-seda, os cromos do futebol e a minha fantástica coleção de conchas.
                                                                                                 José Jorge Letria, A mão esquerda de Cervantes

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