quinta-feira, 18 de junho de 2009

Festa da Leitura

O mês de Junho e o final do ano lectivo foram festejados com uma mostra de livros e autores, convidando os alunos à leitura e desafiando-os para um passatempo em torno dos autores do mês, dois vultos representativos da literatura e da arte: Fernando Pessoa e Maria Helena Vieira da Silva.

Propusemos aos nossos alunos um olhar sobre algumas imagens de obras da pintora Maria Helena Vieira da Silva, a autora do mês, juntamente com Fernando Pessoa. O resultado foi um conjunto de títulos bastante sugestivos, tornando-se clara a preferência dos alunos por alguns quadros da pintora.





quarta-feira, 17 de junho de 2009

Autores de Junho


Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa a 13 de Junho de 1908, exactamente vinte anos depois de Fernando Pessoa.
Filha única, era uma criança isolada e fechada na sua individualidade.
Tinha três anos quando o seu pai morreu. Na altura, ela e os pais viviam na Suíça, onde o seu pai era diplomata.
Regressou com a mãe para Lisboa e foram viver em casa do avô materno, director do jornal “O Século”.
Em Portugal sentia-se uma grande instabilidade governamental, monárquicos e republicanos confrontavam-se dando origem a tumultos violentos, aos quais Vieira da Silva não está alheia. Do seu apartamento ela está atenta à atmosfera pesada, cheia de emoções e de tensões, que a irão acompanhar pela vida fora.
Nunca frequentou a escola. Foi instruída em casa e aprendeu a falar português, francês e inglês.
Ainda muito nova, recebeu lições de piano e aos onze anos, a mãe decidiu inscrevê-la num curso de desenho, não porque a considerasse particularmente dotada, mas sim, porque Vieira da Silva passava horas infindas a desenhar e a observar imagens.
Mais tarde, estudou também escultura e foi admitida no curso de anatomia, na faculdade de Medicina.
Aos vinte anos, sentindo necessidade de aprofundar a sua formação, vai para Paris e inscreve-se na Academia de Grand-Chaumiére, no curso de escultura, mas estuda também pintura e gravura. Viaja pela Itália e apaixona-se pelos pintores primitivos italianos.
Vieira da Silva decide ganhar a vida a fazer desenhos de tecidos e projectos para tapeçarias.
Aos vinte e dois anos casa-se com Arpad Szenes, pintor húngaro, muito mais velho do que ela e que será o seu guia para o resto da vida, pois encoraja-a constantemente a criar confiança nela mesma.
Angustiados pela guerra, fogem de Paris e refugiam-se em Lisboa, para, de seguida, partirem para o Rio de Janeiro e aí permanecerem algum tempo, ajudando os novos artistas brasileiros. Vão até Nova Iorque, onde o seu trabalho é louvado e premiado. O resto da sua vida será passado a voar de Paris para Lisboa e vice-versa. Em 1956 recebe a nacionalidade francesa, no entanto, Vieira da Silva dizia que só tinha uma pátria, a pintura.
Vieira da Silva tem ainda tempo para ver a Fundação com o seu nome e do seu marido ser criada em Lisboa. No mesmo ano em que é operada ao coração -1990.
A 6 de Março de 1992, Vieira da Silva morre em Paris.

Autores de Junho


Perdido
No labirinto de mim mesmo, já
Não sei qual o caminho que me leva
Dele à realidade humana e clara
Cheia de luz, onde sentir-me irmãos.
Por isso não concebo alegremente,
Mas com profunda pesadez em mim,
Esta alegria, esta felicidade,
Que odeio e que me fere.
Ouvir um riso
Amarga-me a alma — mas por quê não sei.
Sinto como um insulto esta alegria...
Toda a alegria. Quase que sinto
Que rir é rir... não de mim mas, talvez
Do meu ser.
Um insulto ao mistério estar a rir
E tendo o horror, do poder durar eterno
Do incompreendido! Estranho!

Felicidade, (...) composto
De sensualidade e infantilismo...
Como te posso eu ter, felicidade?

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 – 30 de Novembro de 1935)
Filho de Maria Madalena Nogueira e de Joaquim Pessoa. Depois da morte do pai viaja para Durban, em 1896, onde fará a instrução primária e secundária. Matricula-se numa Escola Comercial, onde aprende a sua futura profissão. Em 1902, começa a escrever, em inglês e já sob o nome de outro – Alexander Search.
Em 1905 volta para Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras. Começa em 1907 a trabalhar como correspondente estrangeiro de casas comerciais.
Em 1908, começa a escrever poesia em português.
Publica em A Águia, durante o ano de 1912, três artigos sobre «A Nova Poesia Portuguesa». Nesse mesmo ano conhece Mário de Sá-Carneiro, que parte para Paris, iniciando com ele uma correspondência através da qual se trocam ideias literárias e artísticas que hão-de estar na base dos «ismos» de referência da geração de Orpheu – Paulismo, Interseccionismo, Sensacionismo – enqudrados nas tendências das Vanguardas europeias: Futurismo, Expressionismo e Cubismo.
No ano seguinte, saem os dois números da revista Orpheu, que na altura provocam escândalo e gargalhada mas hão-de transformar o século XX português.
Em 1917 colabora no Portugal Futurista. Em 1918 publica dois opúsculos de poemas em inglês, 35 Sonnets e Antinous.
No ano seguinte conhece Ofélia Queirós, e inicia em 1920 o primeiro período do seu namoro com ela. Em 1921 cria a editora Olisipo.
Dirige em 1924 Athena. Revista de Arte mensal.
Nesse mesmo ano reacende-se o amor e a correspondência com Ofélia Queirós.
O seu único livro de poemas em português, Mensagem, sai a 1 de Dezembro de 1934, e ganha um dos prémios nacionais instituídos por António Ferro.
Numa carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935 contará o nascimento e biografia dos heterónimos – Alberto Caeiro, o camponês sensacionista, Ricardo Reis, o médico neo-clássico, e Álvaro de Campos, o engenheiro. Outro membro do clã imaginário é Bernardo Soares, um semi-heterónimo por não ser inteiramente um outro como cada um dos outros é.
Morre no dia seguinte, a 30 de Novembro de 1935.
A sua obra começará a ser publicada sistematicamente, em livro, só a partir de 1942, e a primeira versão de O Livro do Desassossego apenas chegará a sair em 1982.
Trata-se de um dos maiores nomes da literatura universal.

domingo, 14 de junho de 2009

Leitor Mais

Comentário de Hava Yassin, 10º. 5
Uma das minhas passagens preferidas no livro “A História da Gaivota e do Gato que a ensinou a voar”, é o facto do poeta escolhido pelos gatos, ter optado pela noite de chuva, para o momento em que Ditosa, a gaivotinha, consegue voar, pois a noite é o fim do dia, onde os sonhos se costumam “tornar realidade” e a chuva é um símbolo de libertação, de recompensas, pois depois chega a água, o sol, o vento. Isso é mesmo referido nos versos de Atxaga, mencionados pelo poeta escolhido pelos gatos – “ … como por essa chuva tonta/que quase sempre traz vento/… sol”.
Mas (…) pode ter outros significados, como por exemplo, Kengah, mãe de Ditosa ter partido para a morte, no mar, cujo elemento é a água e Ditosa também ter partido com a água, mas com o intuito de seguir o seu rumo, o seu caminho, o lugar das gaivotas – o céu.
Mais, a água em muitas religiões é elemento purificador, por exemplo, nos baptismos é utilizada a água como meio para a purificação.
Para além disso, a noite de chuva costuma ser uma situação de despedidas, de últimos encontros, pois a noite é altura de mudança em que a alegria do dia passa para a triste escuridão.
Importa referir que, na passagem em que Ditosa, numa noite de chuva, consegue voar, realmente existe um momento de despedida da gaivota com os gatos, principalmente Zorbas que actuou conforme um “progenitor” da cria. Mas esta despedida não foi muito profunda, nem muito sentimental, nem o gato a impediu de viajar para o seu rumo, foi uma despedida diferente. Isso comprova-se, pois Ditosa, antes de voar despede-se do gato com um sentimento de amor e carinho – “ Nunca te esquecerei. Nem aos outros gatos” – mas, Zorbas, simplesmente diz “voa!”, o que poderá demonstrar que este não prefere mostrar os seus sentimentos ou então percebeu que Ditosa tinha que seguir a sua natureza, ficando assim a contemplá-la com algumas lágrimas. E, por conseguinte, esta passagem da despedida serve como exemplo, que efectivamente a noite de chuva costuma ser um ambiente de despedida.
E, a chuva traz ainda mais recompensas, pois com ela também se cultivam campos agrícolas que proporcionam alimentos essenciais à vida e também os rios, os mares precisam de água e a fauna e a flora que neles habitam dependem da água para sobreviver.
Poluição do mar - Marés Negras
Também, em alturas de noite de chuva, a cidade ou outro lugar em que nos encontremos costuma ser aparentemente sossegado, pois, como está a chover, penetra-se na escuridão e as pessoas refugiam-se nos seus carros, nas suas casas. Assim, numa noite de chuva, pode existir uma certa leveza que nem sempre se encontra, o facto de Atxaga utilizar a metáfora – “a chuva tonta”, é igualmente importante para evidenciar esse facto, “a liberdade da chuva”, ora segue um caminho ora outro, tal como as gaivotas e outras aves, ora seguem um rumo ora outro.
As noites de chuva também servem para reflectirmos sobre a vida nos momentos que nos sintamos tristes ou não. Tal como, o poeta escolhido pelos gatos, fazia – “ Costumo vir até aqui… e pensar na solidão nas noites de tempestade”.
Ainda é importante referir que Kengah fora enterrada numa noite e Ditosa partira para uma nova vida. Assim, mais uma vez, vemos que existe um contraste nas situações da mãe da cria e a cria.
Mais, quando Kengah é enterrada “à luz da lua”, todas as casas de Hamburgo acenderam as luzes e, toda a gente pergunta-se por que razão os seus animais estavam tão tristes. E isso acontecia, porque um problema dos gatos do porto era problema dos outros gatos também. Mas, na altura em que Ditosa está prestes a voar, Hamburgo estava silenciosa, ou pelo menos parecia, e o autor recorre à comparação para evidenciar esse aspecto – “ A chuva …. No porto as gruas pareciam animais em repouso”. No entanto, existia movimento na cidade e isso comprova-se com outra comparação “ os automóveis moviam-se como insectos de olhos brilhantes”.
Não posso deixar de referir que, o facto do autor mencionar que o clima onde Ditosa conseguiu voar era de “uma espessa chuva”, poderá querer evidenciar a importância do valor do acto de voar por ser uma dificuldade suplementar a vencer.
Com todo este clima de “suspense” evidenciado pelo autor é extraordinário o ambiente que cria e deixa na expectativa ao leitor – Será que a gaivota conseguirá voar? Será agora? Será neste momento?
Deste modo, é visível que a chuva é o lugar ideal para se partir para o nosso destino, o lugar onde nos sintamos felizes e realizados e, neste caso, o de Ditosa foi voar pelo céu, sobrevoar a belíssima noite de Hamburgo.
Não estava à espera que o autor criasse a passagem do poeta, em que este teria a sensibilidade para ensinar a gaivota a voar e que isso acontecesse numa noite de chuva, portanto, achei o livro muito interessante. Nomeadamente, esta parte do livro é muito sugestiva. Por estranho que pareça, li este livro noutra altura e esqueci-me da parte mais importante do livro, se calhar porque não estava à espera, ao ler, que tal acontecesse, o “suspense”, o mistério.
Concluindo, esta passagem leva-nos a reflectir sobre o muito que os humanos ainda têm de aprender e as formas que têm de encontrar para apreciar, respeitar e amar porque o jogo da vida, sem diversidade, não seria tão empolgante nem atractivo. E, o ser humano tem que respeitar a natureza humana, tal como Zorbas, respeitou a gaivota e não a impediu de ser feliz.

Leitor Mais

Sempre empenhada em descobrir e revelar(-nos) as suas leituras, a Hava Yassin, aluna da turma 5 do 10º. ano, deixou-se encantar pelo mistério da trilogia de Isabel Allende, em particular pela obra intitulada A Cidade dos Deuses Selvagens, que lhe sugeriu este texto poético.
“O Segredo”

Tempestade à vista,
Oportunidades à espreita.
Filho a agir, mãe a hibernar.
Ora caminhando para as trevas, ora caminhando para a luz.

Perigos, monstros atravessar
Para International Geographix publicar.
Amazónia à vista,
Ricos a roubar..
Minerais, ouro, madeira a explorar
E a tribo índia a sangrar
Tribos cruéis, por vezes.
Neblina chega e corações desperta..
Forasteiros a neblina devem,
Presente submissão.
Furiosas estão as Bestas,
Da destruição dos seus queridos,
Índios queridos de quem história guardam.
Num belo lugar reside.
Ó linda Natureza!
Que cofre senão a cabeça?

Nadia, Alex
Amizade forte perdurará,
Unidos estais,
Invencíveis conseguireis
A mais bela salvar.

Amazónia linda,
Amazónia querida.
Espreitar oportunidades,
Somente com o coração.
Então,
Contai-me que riscos trareis.
Ó linda Natureza!
Contai-me que histórias
Haveis guardado?