domingo, 14 de junho de 2009

Leitor Mais

Comentário de Hava Yassin, 10º. 5
Uma das minhas passagens preferidas no livro “A História da Gaivota e do Gato que a ensinou a voar”, é o facto do poeta escolhido pelos gatos, ter optado pela noite de chuva, para o momento em que Ditosa, a gaivotinha, consegue voar, pois a noite é o fim do dia, onde os sonhos se costumam “tornar realidade” e a chuva é um símbolo de libertação, de recompensas, pois depois chega a água, o sol, o vento. Isso é mesmo referido nos versos de Atxaga, mencionados pelo poeta escolhido pelos gatos – “ … como por essa chuva tonta/que quase sempre traz vento/… sol”.
Mas (…) pode ter outros significados, como por exemplo, Kengah, mãe de Ditosa ter partido para a morte, no mar, cujo elemento é a água e Ditosa também ter partido com a água, mas com o intuito de seguir o seu rumo, o seu caminho, o lugar das gaivotas – o céu.
Mais, a água em muitas religiões é elemento purificador, por exemplo, nos baptismos é utilizada a água como meio para a purificação.
Para além disso, a noite de chuva costuma ser uma situação de despedidas, de últimos encontros, pois a noite é altura de mudança em que a alegria do dia passa para a triste escuridão.
Importa referir que, na passagem em que Ditosa, numa noite de chuva, consegue voar, realmente existe um momento de despedida da gaivota com os gatos, principalmente Zorbas que actuou conforme um “progenitor” da cria. Mas esta despedida não foi muito profunda, nem muito sentimental, nem o gato a impediu de viajar para o seu rumo, foi uma despedida diferente. Isso comprova-se, pois Ditosa, antes de voar despede-se do gato com um sentimento de amor e carinho – “ Nunca te esquecerei. Nem aos outros gatos” – mas, Zorbas, simplesmente diz “voa!”, o que poderá demonstrar que este não prefere mostrar os seus sentimentos ou então percebeu que Ditosa tinha que seguir a sua natureza, ficando assim a contemplá-la com algumas lágrimas. E, por conseguinte, esta passagem da despedida serve como exemplo, que efectivamente a noite de chuva costuma ser um ambiente de despedida.
E, a chuva traz ainda mais recompensas, pois com ela também se cultivam campos agrícolas que proporcionam alimentos essenciais à vida e também os rios, os mares precisam de água e a fauna e a flora que neles habitam dependem da água para sobreviver.
Poluição do mar - Marés Negras
Também, em alturas de noite de chuva, a cidade ou outro lugar em que nos encontremos costuma ser aparentemente sossegado, pois, como está a chover, penetra-se na escuridão e as pessoas refugiam-se nos seus carros, nas suas casas. Assim, numa noite de chuva, pode existir uma certa leveza que nem sempre se encontra, o facto de Atxaga utilizar a metáfora – “a chuva tonta”, é igualmente importante para evidenciar esse facto, “a liberdade da chuva”, ora segue um caminho ora outro, tal como as gaivotas e outras aves, ora seguem um rumo ora outro.
As noites de chuva também servem para reflectirmos sobre a vida nos momentos que nos sintamos tristes ou não. Tal como, o poeta escolhido pelos gatos, fazia – “ Costumo vir até aqui… e pensar na solidão nas noites de tempestade”.
Ainda é importante referir que Kengah fora enterrada numa noite e Ditosa partira para uma nova vida. Assim, mais uma vez, vemos que existe um contraste nas situações da mãe da cria e a cria.
Mais, quando Kengah é enterrada “à luz da lua”, todas as casas de Hamburgo acenderam as luzes e, toda a gente pergunta-se por que razão os seus animais estavam tão tristes. E isso acontecia, porque um problema dos gatos do porto era problema dos outros gatos também. Mas, na altura em que Ditosa está prestes a voar, Hamburgo estava silenciosa, ou pelo menos parecia, e o autor recorre à comparação para evidenciar esse aspecto – “ A chuva …. No porto as gruas pareciam animais em repouso”. No entanto, existia movimento na cidade e isso comprova-se com outra comparação “ os automóveis moviam-se como insectos de olhos brilhantes”.
Não posso deixar de referir que, o facto do autor mencionar que o clima onde Ditosa conseguiu voar era de “uma espessa chuva”, poderá querer evidenciar a importância do valor do acto de voar por ser uma dificuldade suplementar a vencer.
Com todo este clima de “suspense” evidenciado pelo autor é extraordinário o ambiente que cria e deixa na expectativa ao leitor – Será que a gaivota conseguirá voar? Será agora? Será neste momento?
Deste modo, é visível que a chuva é o lugar ideal para se partir para o nosso destino, o lugar onde nos sintamos felizes e realizados e, neste caso, o de Ditosa foi voar pelo céu, sobrevoar a belíssima noite de Hamburgo.
Não estava à espera que o autor criasse a passagem do poeta, em que este teria a sensibilidade para ensinar a gaivota a voar e que isso acontecesse numa noite de chuva, portanto, achei o livro muito interessante. Nomeadamente, esta parte do livro é muito sugestiva. Por estranho que pareça, li este livro noutra altura e esqueci-me da parte mais importante do livro, se calhar porque não estava à espera, ao ler, que tal acontecesse, o “suspense”, o mistério.
Concluindo, esta passagem leva-nos a reflectir sobre o muito que os humanos ainda têm de aprender e as formas que têm de encontrar para apreciar, respeitar e amar porque o jogo da vida, sem diversidade, não seria tão empolgante nem atractivo. E, o ser humano tem que respeitar a natureza humana, tal como Zorbas, respeitou a gaivota e não a impediu de ser feliz.

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